fonte: CREMERJ
Por Alfredo Guarischi, médico cirurgião
No artigo publicado em O Globo “Mais saúde e integração”, em 8 de dezembro, o autor assina como empresário e não como CEO da United Health.
Claudio Lottenberg é um bom médico e o presidente da filial brasileira de uma das maiores empresas privadas de saúde do mundo. Um artigo seu em que não assina como tal confunde o leitor. Na frase inicial “A assistência à saúde é um direito social… foco na qualidade, no acesso e na equidade para todos…”, fica clara sua intenção: “…com o início de um novo governo… temos a oportunidade…”. Nesse texto (profissional), defende o interesse da sua empresa e de alguns grupos em vender serviço de alta complexidade para o SUS. Enxerga o prontuário eletrônico como meio de gestão e não como assessoria de informações clínicas.
O autor deseja também “as informações de nossa população” para direcionar “programas de gestão de saúde, calibrando práticas” (qual o real significado de “calibrar”?), “focando na prevenção e reduzindo desperdício” (o real significado de “prevenção” seria exclusão, e o de “desperdício” seria uma medicina mais barata, excluindo os “gastos”, que são o direito de tentar novas técnicas ou medicamentos?).
Sua última frase é um jogo de temas e palavras: “O resultado será uma população mais saudável e um sistema de saúde mais sustentável para todos.” Não é verdade. O jogo de palavras “…políticas de saúde, e não em política na saúde”, absolutamente correto e escrito anteriormente por vários autores, nesse artigo soa falso, pois há sim um enorme interesse na troca da “política na saúde” pelo “empresariado da saúde”, o qual não atuará nas periferias pobres, com os índios, na vacinação, no atendimento ao trauma e em tantas outras ações do SUS.
Alguns segmentos do sistema privado desejam o fim do SUS. A perda da gestão dos serviços de alta complexidade e mais custoso asfixiará o sistema público, que perderá verbas ao aumentar as questionáveis isenções fiscais para algumas empresas. O sistema de saúde é um programa vital e de Estado. Não pode continuar sendo um programa de governo e mudado a todo momento, uma diretriz consistente e duradoura precisa ser seguida e implantada. Os profissionais de saúde, suas entidades e a população fazem parte dessa solução e não do problema.
Precisamos de mais saúde e não de maus na saúde. Precisamos de mais integração e não de mais cartelização. Parcerias público-privadas são uma opção de gestão, mas há a necessidade de fiscalização e de claro entendimento de que a saúde é o bem maior da população.